Merle

Nesta página tentaremos explicar um pouco mais sobre a pelagem Merle e sobre os grandes equívocos relacionados a ela.
Um pouco sobre genética
Os folículos do pêlo são constituídos de células contendo dois pigmentos – Eumelanina (preto) e Fenilalanina (dourado); então basicamente a Eumelanina produz o preto mais escuro e os marrons escuros, enquanto a Fenilalanina é responsável pela produção do dourado. Existe uma enorme quantidade de genes que controlam a produção destes pigmentos dentro das células e então a cor da pelagem. Tais genes, que controlam as características, estão presentes sempre em pares, sendo um herdado do pai e outro da mãe. Um gene expressado por letra MAIÚSCULA é DOMINANTE e um representado com uma letra minúscula, é recessivo.
M = Merle
m = não merle
Merle é dominante (representado assim, pela letra maiúscula M)
Quando um animal tem dois genes idênticos, é chamado homozigoto e quando possui dois genes diferentes, ele éheterozigoto.
MM = Merle homozigoto (dois genes iguais)
Mm = Merle heterozigoto (os dois genes são diferentes)
Quando o gene é dominante, o animal só precisa de uma cópia (vinda de qualquer um dos pais) para que a cor se manifeste. Quando o gene é recessivo, o animal PRECISA ter duas copias dele para que a cor possa aparecer no fenótipo, então deve obrigatoriamente receber um do pai e outro da mãe. Sendo assim, os genes recessivos
tornam-se “carregados”, ou seja, o animal possui apenas uma cópia dele que não é mostrada na coloração, mas que pode ser transmitida a sua prole.

Sendo um animal heterozigoto para um determinado gene (possui uma copia de cada), ele estatisticamente irá transmitir o gene dominante para 50% da ninhada e os outros 50% receberão o gene recessivo. Sendo ele homozigoto, irá transmitir o mesmo para toda a ninhada.
O padrão Merle é determinado por um gene dominante (M), assim sendo, é necessária apenas uma cópia deste gene para que o cão manifeste tal coloração (precisando apenas que um dos pais apresente a cor para que ela se manifeste na ninhada).
Mas então, o que é o “Merle”?

Mas notem: não é pelo fato de o cão ter o branco como cor predominante, que o torna um duplo Merle (MM). Inúmeras raças com o gene atuante sobre o Merle, também possuem os genes que atuam no alelo s (responsável pela manifestação da cor branca em cães). Ou seja, quando há a combinação do alelo s ao Mm, o indivíduo se torna um Branco Merle. Por isso torna-se fundamental conhecer a linhagem do animal em questão, antes de qualquer conclusão precipitada.
Merle “Fantasma”
Como já explicado acima, cães que sejam Merle heterozigoto (Mm) são animais completamente normais, e para que isso se mantenha, devem ser acasalados com cães de outras colorações (não Merles). Entretanto, há uma cor que pode trazer um certo risco nestes cruzamentos: o dourado. O gene de extensão, como o nome já diz, é o responsável pela extensão dos pigmentos no folículo do pêlo. Ele é representado pela letra “e” onde (E – maiúsculo) é dominante e permite a extensão da Eumelanina, sendo assim o cão é marrom ou preto, e (e – minúsculo) é a forma recessiva do gene e permite a
extensão da Fenilalanina e previne a extensão da Eumelanina, ou seja, não há presença de Eumelanina no pigmento e o cão é dourado.

O que é interessante sobre este gene, é que ele irá mascarar a cor verdadeira do animal. Você poderá ter cães pretos, marrons, azuis e lilases que irão aparentar serem dourados pela falta de Eumelanina no folículo do pêlo. O gene Merle não poderá se expressar nos cães dourados verdadeiros (lembrando que o Merle atua na Eumelanina), portanto, fazer um cruzamento merle x dourado (a não ser que se conheça muito bem e a fundo as linhagens) é loucura. Caso o Merle carregue o gene dourado, provavelmente produzirá os chamados “merles fantasmas”. Então é possível que filhotes dourados nascidos de um dos pais Merle, sejam na verdade Merles e você simplesmente não possa ver. Não seja enganado por aqueles que dizem poder ver o Merle em filhotes ‘ee’, pois isso é química e fisicamente impossível. O risco está nestes filhotes serem inadvertidamente cruzados com cães também Merles, sendo assim um cruzamento Merle x Merle, e como já sabemos, poderá resultar no nascimento de filhotes com vários problemas.
Merle x Padrão da Raça
Do ponto de vista morfológico, ou seja, em relação a sua saúde, temperamento, estrutura e outros atributos que são próprios ao American Bully, os exemplares que nascem com a coloração Merle têm um patrimônio genético idêntico a qualquer outro filhote da sua ninhada. O filhote Merle difere-se dos seus irmãos única e exclusivamente pela cor de sua pelagem. Embora estes exemplares não possam participar de exposições e ganhar títulos em campeonatos de beleza, devido a esta desqualificação prevista no padrão oficial da raça, tanto nos países da Europa como no Canadá e nos EUA são amplamente utilizados em programas de reprodução, sempre que apresentam potencial em quesitos como estrutura, temperamento, movimentação, inteligência, saúde, etc. Infelizmente, no Brasil, verifica-se ainda uma visão muito estreita em relação a coloração Merle, devido a falta de informação e falta de conhecimento.
Abaixo segue pequeno depoimento dado por Dave Wilson (fundador da ABKC), juntamente com sua tradução:

” O merle é um verdadeiro padrão de cor na raça American Bully. Quando os livros genealógicos foram criados houveram criadores que tinham cães da cor Merle e muitos de seus cães foram registrados nesta raça; portanto, tornando-os verdadeiros American Bullys. Esta raça não é um Pit Bull, todos os cães que entraram nos studbook fazem parte do pool genético desta raça. Já sabemos que algumas linhas têm traços de outras raças, eu diria com predominância de sangue dos bulldogs. Eu preferiria que esta raça fosse apenas descendente de Pit Bulls, mas não é. Na minha opinião os Merles originais tinham mais traços dos verdadeiros Pit Bulls que muitas outras linhas e cães. Fato é que os cães originais registrados nos livros genealógicos da raça fazem parte do pool genético e são todos American Bully. Os padrões foram mudados e os critérios foram alterados para ajudar a limitar traços de outras raças, e ajudar a continuar seu crescimento como uma raça pura. Mas quando os livros genealógicos foram originalmente inaugurados havia um pool genético mais amplo de cães … se você quiser argumentar que o Merle não é um verdadeiro traço no Pit Bull, isso é um argumento irrelevante no American Bully. Livros genealógicos compõem o conjunto de genes de uma raça nova, por isso, esta raça tem esse traço independentemente desse debate. Eu, pessoalmente, tenho algum argumento para aqueles que dizem que não é um verdadeiro traço no Pit Bull, ela pode ser rastreada até muitas gerações. Se você verificar livros antigos do Stratton dos anos 80 você vê fotos de alguns. Se você for mais para trás e olhar para alguns cães bourdreaux, bem lá atrás haviam alguns também. Foi ainda documentado que alguns criadores de Pit Bull usaram um sangue de cães Cur que tinham Merle em suas linhas, que foi feito antes do pit bull se tornar uma verdadeira raça, e uma vez que livros genealógicos foram abertos para ele, ocasião em que se tornou uma verdadeira raça, e essas linhas foram inclusas. Assim como muitos criadores de Pit Bull utilizaram diferentes raças…”
O texto aparenta estar incompleto, mas já é o suficiente para mostrar como a cor Merle sempre esteve presente dentro da raça Pit Bull e, por consequência, no American Bully.
fonte: facebook pessoal de Ken Francis – fundador CBR (Creole Bully Registry).
Outro fato que mostra o quão enraizada esta coloração está na raça, é o fato de que John Colby, um dos criadores mais famosos de toda a história, já possuía cães Merles em sua criação. Abaixo uma imagem de John, seu filho Louis e sua cadela Merle, uma Pit Bull chamada Goldie (1922).
Registro para os cães Merle
Como o Merle é considerado uma coloração fora de padrão, teoricamente até então nenhum American Bully que expressasse tal cor poderia receber registro (independente de qual for a entidade escolhida). Uma forma de burlar isso, assim como ocorre em inúmeras outras raças (ex: Bulldog Francês azul, Bulldog Inglês tricolor, etc), é registrando o exemplar em questão com alguma outra cor aleatória. No caso dos American Bullys Merle que possuem registro, as cores mais usadas são o “brindle” e “tigrado”. Entretanto tais cães correm o risco de terem seus registro cancelados a qualquer momento, por conta desta “fraude” (o que pouco ocorre devido a importância dada ao valor arrecadado com emissão de pedigrres pelas entidades e também pelo número exorbitante de papéis emitidos, tornando praticamente impossível revisar cada um com a devida atenção). Com o intuito de acabar com isso e conseguir finalmente um registro definitivo e com a real cor Merle estampada nele, é que foi criada a CBR – Creole Bully Registry: entidade com o objetivo de registrar única e exclusivamente os exemplares Merles (sejam eles American Bully ou American Pit Bull Terrier).
O Merle em outras raças de Cães
É errôneo pensar que o Merle é completamente banido e fora do padrão para qualquer raça de cão !!! Abaixo, algumas raças onde essa padronagem é completamente aceita :
Dogue Alemão

Dachshund

Catahoula

Alapaha Bulldog

Buldogue Campeiro

Pastor Australiano

Pastor de Shetland

Collie

Border Collie

Agora exemplos de raças onde o Merle é considerado completamete fora do padrão (fator desqualificante), mas que mesmo assim estão tendo esta cor amplamente difundida :
Olde English Bulldogge

Bulldog Francês

Bulldog Inglês

Pit Bull

Chiuaua

Spitz Alemão (Lulu da Pomerânia)

Husky Siberiano

Welsh Corgi (Cardigan e Pembroke)

Credito:http://skullbulls.com/merle-2/