sábado, 19 de novembro de 2016

Cães, Genética Aplicada à Criação

INTRODUÇÃO À GENÉTICA

Genética é a Ciência que estuda como se transmitem os caracteres físicos, bioquímicos e de comportamento de pais para filhos. Inicialmente foi desenvolvida pelo monge austríaco Gregor Mendel, que trabalhou com a planta da ervilha, descrevendo os padrões da herança em função de sete pares de traços contrastantes que apareciam em sete variedades diferentes dessa planta.
O trabalho de Mendel foi publicado em 1866, mas na prática foi ignorado até que em 1900 outros cientistas perceberam que os padrões hereditários que ele havia descrito eram comparáveis à acção dos cromossomos nas células em divisão, e sugeriram que as unidades mendelianas de herança, os genes, se localizavam nos cromossomos, os quais variam em forma e tamanho e em geral apresentam-se em pares.
Atualmente, sabe-se que cada cromossomo contém muitos genes, e que cada gene se localiza numa posição específica, o locus, no cromossomo. A metade destes cromossomos procede de um progenitor e a outra metade do outro. Quando as duas metades são idênticas, diz-se que o indivíduo é homozigótico para aquele gene particular. Quando são diferentes, ou seja, quando cada progenitor contribuiu com uma forma diferente, ou alelo, do mesmo gene, diz-se que o indivíduo é heterozigótico para o gene.
Ambos os alelos estão contidos no material genético do indivíduo, mas se um é dominante, apenas este se manifesta. No entanto, como demonstrou Mendel, a característica recessiva pode voltar a manifestar-se em gerações posteriores, desde que, em indivíduos homozigóticos para seus alelos.

GENÉTICA APLICADA À CRIAÇÃO DE CÃES

As leis da hereditariedade são as mesmas para todos os organismos vivos. A experiência nos mostra que, para se conseguir progresso numa raça de animais, é essencial a selecção correcta dos acasalamentos. O objectivo é produzir a uniformidade das qualidades que estão presentes nos melhores exemplares. Significa que temos o objectivo de criar animais não apenas perfeitos em si mesmos, mas com tendências hereditárias a reproduzir sua própria perfeição, de modo que, por meio de uma selecção criteriosa de acasalamentos, possamos
alcançar a excelência universal. E isto é mais importante do que a perfeição individual.
  - Um bom filhote ocasional numa ninhada não significa que o pai ou a mãe sejam reprodutores de valor.
  - Uma ninhada com cinco exemplares “muito bons” é bem mais valiosa do que aquela que apresenta apenas um “excelente” e os demais medíocres.
  Vale lembrar também que o fenótipo ( aparência externa ) nem sempre corresponde ao genótipo (material genético) do animal. Um cão pode apresentar excelentes qualidades, mas devido à heterozigosidade ele pode também transmitir defeitos à sua prole.
Outros factores que não podem ser esquecidos são:
 - ambiente externo (alojamentos, higiene, área de exercícios, vacinação, nutrição, etc.);
 - ambiente interno (efeitos maternos).
Um filhote proveniente de excelentes exemplares pode vir a pertencer a alguém que não lhe proporcione condições de desenvolver o seu potencial hereditário, mas isto não alterará o seu patrimônio genético.
Frise-se que a genética não está apenas a serviço dos puristas. Todos os criadores se devem preocupar em conhecer, ao menos, os fundamentos da hereditariedade, para não introduzirem na criação, animais que possam transmitir características indesejáveis. O trabalho dos puristas não deve, no entanto, ser desprezado, uma vez que é graças a eles que existem as raças “puras” de cães que hoje conhecemos.
A expressão “raça pura” é discutível, pois a grande maioria das raças caninas conhecidas são resultantes de diversos cruzamentos. Donde se conclui serem “puras por cruza” e não “puras por origem”.
A maior parte das raças de cães nasceram das necessidades do homem, tais como: segurança, pastoreio, caça, ou mesmo companhia.
Nesta linha de pensamento, podemos citar o esplêndido trabalho, iniciado em 1875, por Karl Friedrich Louis Dobermann, um simples cobrador de impostos, e por feliz coincidência, encarregado de recolher animais abandonados.
Dobermann necessitava de um cão capaz de protegê-lo de assaltantes em suas viagens solitárias, como cobrador de impostos. Os primeiros cães que ele conseguiu criar eram singularmente feios, peludos e com cabeças grosseiras, sem qualquer traço da elegância dos actuais exemplares outrora idealizados. No entanto, sua coragem já era a toda prova, e pela região de Apolda, onde vivia Karl Dobermann, seus cães eram notados e reconhecidos como “os cães de Dobermann”; porém, o criador não viveu para ver os cães que idealizara dezenove anos antes de morrer, em 1894.
Entretanto, a criação sobreviveu ao criador, porque entusiastas desenvolveram a obra de Dobermann, até chegar aos cães por ele sonhados: elegantes, ágeis, corajosos e absolutamente leais. A coroação ocorreu em 1923, quando um cão da raça DOBERMANN sagrou-se Campeão em um torneio na Alemanha.
Vimos acima que em menos de cinquenta ( 50 ) anos após nascer a ideia, o objectivo foi alcançado. O trabalho de um mero cobrador de impostos, baseado apenas em fenótipo, e sem nenhum conhecimento das Leis de Mendel, obteve êxito. O que abre um campo ilimitado de possibilidades, usando a ciência cada vez mais evoluída, que nos permite até mesmo o mapeamento de genes. Temos agora a possibilidade de criar novas raças em menor espaço de tempo.
Talvez até possamos indagar sobre o que não pode ser criado !

OS DOZE ‘MANDAMENTOS’ DA HEREDITARIEDADE

I - Não existem atalhos para o melhoramento da raça. O melhoramento só pode ser
conseguido através de cuidadosa selecção. A criação selectiva é o arcabouço de um programa vitorioso.
II - Extraem-se dos filhotes menos de 50% do que os pais podem oferecer. O
aproveitamento do material genético herdado dos pais varia de acordo com a penetrância de cada gene.
III - Cautela ao interpretar a ocorrência casual de um facto. Neste caso devemos nos lembrar que há genes mímicos e genes epistáticos, que podem promover resultados inesperados num acasalamento, entretanto, esses resultados não definem o património genético de cada animal.
IV - Itens complexos são determinados por inúmeros genes. Muitas das características são quantitativas, quer dizer, são determinadas por muitos pares de genes.
V - Não existe raça de cão que se reproduza sem variações. Isto se deve à segregação independente. Genes independentes podem ser encontrados numa raça e não constatados em outra.
VI - Condições ambientais catalizam ou suavizam tendências genéticas.
VII - A pouca utilização do inbreeding se deve a interesses comerciais. Os criadores que utilizam o inbreeding estão praticando melhoramento visando eliminar ou fixar uma característica; criadores “comerciais” não se interessam por melhoramento.
VIII - Acasalamento de irmão com irmã produz queda na vitalidade dos filhotes. Estes acasalamentos promovem maior degeneração de inbreeding. Os registros mostram que são muito contraditórios os resultados comunicados por criadores que tentaram acasalar irmão com irmã, com o intuito de fixar boas características em seu plantel. Verificar-se-á que este tipo de acasalamento tem como consequência um decréscimo na vitalidade e robustez dos filhotes nascidos.
IX - Os maiores efeitos do inbreeding ocorrem nas primeiras gerações. Um grupo de pesquisadores calculou os índices teóricos do aumento de similitude a cada continuação de acasalamento entre irmãos. Os cálculos mais confiáveis indicam que a redução na proporção de pares genéticos não semelhantes foi de aproximadamente 19,l% por geração depois da primeira, na qual a redução foi de 25%. Os índices são tão rápidos, que após dez gerações de acasalamentos entre irmãos, a partir de espécimes com 50% de semelhança, cerca de 94% de
pares de genes são iguais. Assim, o inbreeding apresenta seus maiores efeitos durante as primeiras gerações e relativamente pouco efeito além da décima ou décima-segunda geração.
X - O inbreeding nada cria de novo, mas apenas intensifica o que já existia. O inbreeding encontra a sua melhor utilização na fixação de características. O inbreeding pode transformar genótipo e fenótipo num denominador comum.
XI - O teste de progênie é a única prova válida da prepotência de um cão. Aqui entra de novo o acasalamento com consanguinidade, pois quanto mais “fechada” for a consanguinidade do cão ou da cadela, maiores serão as chances de um ou de outro ser dominante, em contraposição a um cão ou uma cadela que não tenha consanguinidade “fechada”. Ao seleccionar um padreador para complementar os atributos da cadela é importante levar em séria consideração também as qualidades dos seus pais. Isto tudo só poderá ser observado na progênie.
XII - Acasalamentos sonhados podem dar filhotes decepcionantes; a cadela reprodutora pode ou não transmitir as qualidades que ela mesma possui, o mesmo podendo ocorrer com o macho.

HERANÇA

Embora difundida, é errada a opinião de que defeitos opostos se equilibram no sentido hereditário. É completamente impensável que uma garupa curta e caída poderia ser equilibrada, ou melhorada, por uma longa e plana no outro par do casal; como também é completamente impossível que posteriores superangulados possam ser melhorados pela falta de angulação.
A única solução para chegar ao equilíbrio é somente o correcto. Para uma garupa faltosa, uma garupa correcta; para a má angulação, somente uma angulação correcta. No sentido deste trabalho, devo chamar a atenção de que os antepassados do animal devem melhorar as faltas de outro, devendo ser correctos em relação a esta falta.
 Para eliminar faltas deve-se usar, para criação, animais que não sejam portadores da respectiva falta, nem em seus antepassados; deve-se procurar pela selecção apropriada e criar animais com hereditariedade limpa.
herança citoplasmática - Com relação ao mecanismo de hereditariedade, devemos argumentar que as células, a grosso modo, se compõem de um núcleo e de plasma. Os espermatozóides são praticamente só um núcleo movimentado pela cauda, que se parte logo após o núcleo penetrar no óvulo. O óvulo fornece a maior parte do material de construção para as células que se formam por divisão. Núcleo e plasma formam uma unidade funcional, e não se pode negar que o plasma tem uma grande influência sobre o ser que está em formação. Por isso, a herança citoplasmática também é chamada de herança materna.
herança de factores múltiplos - O que acreditamos ser uma característica simples (pernas, pés, cauda, etc.) é frequentemente influenciada no seu desenvolvimento por um grande número de diferentes genes, e não relacionados, capazes de selecção independente. É extremamente difícil determinar os vários genes que influenciam uma determinada característica, e definir o efeito específico que podem ter naquela característica. Alguns genes determinam uma influência directa e completa no desenvolvimento de uma característica (genes dominantes). Outros desempenham um papel parcial, sendo neutralizados de certa forma pela
acção do membro oposto no par ao qual pertencem (genes incompletos). Outros genes são completamente mascarados e não apresentam nenhuma actuação, a não ser que tais genes sejam ambos membros de um determinado par (genes recessivos). Temos ainda que a combinação de actuação de genes múltiplos com factores ambientais é antes a regra do que a excepção, em características como: complemento do corpo, altura, peso, desenvolvimento da cabeça e do focinho, dentição, formato e tamanho dos pés, desenvolvimento muscular e ósseo, e as tão faladas “faltas”, como ombros caídos, costelas sem curvatura, jarretes de vaca,
jarretes fracos e pés espalmados. Exemplificando, podemos citar o facto de que chegou-se à conclusão de que o tamanho do corpo depende de certos genes, que actuam sobre todos os tecidos, e de outros que influenciam certas regiões: pernas, pescoço ou cauda. A dieta, exercícios e outras influências ambientais determinam, de certa forma, o grau com que os genes podem estimular ou produzir o crescimento dos diferentes tecidos, órgãos e partes do corpo.
herança bilateral - É assim chamada a herança em que a progênie apresenta as
características dos pais “fundidas”. Isto pode gerar animais sem harmonia. Neste caso, devemos observar não apenas a qualidade dos pais, mas também a da progênie; óptimos cães podem produzir filhotes medíocres, sem ser devido à heterozigosidade, quer dizer, os genes transmitidos são desejáveis isoladamente, mas em conjunto podem provocar fenótipos indesejáveis. Como exemplo podemos ter dois cães: a fêmea com excelente temperamento e uma conformação
física dentro dos padrões, e o macho com temperamento razoável e excelente estrutura, mas os filhotes podem apresentar temperamento instável e sua estrutura pode ser alterada para má, caso tenhamos a acção de genes mímicos.
herança atávica - Quando o produto de um determinado acasalamento apresenta um animal diferente de ancestrais mais próximos, reproduzindo características de ancestrais distantes.
herança homócroma - Uma determinada característica manifesta-se na mesma idade em que se manifestou em um dos pais. Na espécie humana, temos a calvície masculina, e nos cães podemos citar a maturidade sexual.
herança reinvertida - O animal se parece com um dos pais quando jovem e apresenta o fenótipo do outro na idade adulta.
herança correlativa - Duas ou mais características transmitem-se juntas. Muitos atributos de conformação são correlativos com funções. Esta herança também pode ser chamada de pleiotropia. Exemplo: determinadas raças de cães têm os olhos azuis, associados a deficiência auditiva.
herança de caracteres adquiridos - Neste caso, os múltiplos factores genéticos, dos quais depende toda a constituição do animal, se desenvolvem mais ou menos segundo as influências externas a que são submetidos. O que um indivíduo é resulta da interação do meio e da bagagem hereditária. Quer dizer, os genes determinam o que o animal poderá vir a ser, e não o que ele deveria ser.

DOMINÂNCIA

Dominância é quando um alelo A se expressa fenotipicamente anulando o efeito do alelo a ; neste caso, A é o dominante, e a é recessivo. Assim sendo, o fenótipo do alelo A é dominante, e indivíduos AA e Aa são fenotipicamente semelhantes. Na condição heterozigota (Aa), o alelo a está completamente mascarado, mas na condição homozigota do recessivo (aa) não encontramos a expressão fenotípica do alelo A.
Ex.: A determina pigmentação escura
      a determina pigmentação clara
- No cruzamento de dois indivíduos heterozigotos (Aa) de pigmentação escura teremos
                       pai →          A      a
                       mãe ↓          A      a
                       A       AA     Aa
                               25% 25%
                       a       Aa     aa
                               25% 25%
- assim: 75% da progênie terá pigmentação escura (AA e Aa). 25% da progênie terá pigmentação clara (aa)
 Vimos acima a herança de uma simples característica, agora abordaremos a herança de duas características simultaneamente.
O cão da raça Cocker Spaniel Inglês possui gene dominante B para a cor preta, e um gene recessivo b para a cor dourada, e possui também um gene T para animais altos, além de um gene recessivo t para animais baixos.
Nos exemplos a seguir, acasalaremos um macho homozigoto dominante (BBTT) com uma fêmea homozigota recessiva (bbtt), e verificaremos que toda a geração F1 será heterozigota(figura 1), e a seguir acasalaremos dois animais de F1 (figura 2):
                        →
figura 1        pai            BT      BT (fenótipo preto e alto)
                        ↓
                mãe            (fenótipo dourada      bt             BbTt BbTt
         e baixa)                                     F1
                        bt             BbTt BbTt
                F1 = 100% de animais heterozigotos ( BbTt) pretos e altos.
figura 2
                               BT      Bt      bT     bt
                        BT     BBTT BBTt BbTT BbTt
                        Bt     BBTt BBtt BbTt Bbtt
                        bT     BbTT            BbTt bbTT bbTt
                        bt     BbTt Bbtt bbTt bbtt
resultado: 6,25% homozigotos pretos e altos    (BBTT)
                    50% heterozigotos pretos e altos    (BBTt, BbTt, BbTT)
               18,75% heterozigotos pretos e baixos  (BBtt, Bbtt)
               18,75% heterozigotos dourados e altos (bbTt, bbTT)
                 6,25% homozigotos dourados e baixos (bbtt)

DOMINÂNCIA INCOMPLETA

Muitos pares de genes são completamente dominantes ou recessivos um ao outro. Assim temos que os homozigotos dominantes ou heterozigotos são indistinguíveis na aparência. Em certos casos, porém, os heterozigotos são fenotipicamente diferentes de cada homozigoto. Genes assim são os que caracterizam dominância incompleta.
Um exemplo é o gene M para a cor merle na raça Collie. O homozigoto MM é quase todo branco, tem olhos azuis e é comumente surdo, enquanto o heterozigoto Mm tem marcas brancas na cabeça e ombros, e pigmentação diluída. Já o gene recessivo m tem a pigmentação completamente normal. Assim sendo, no acasalamento entre dois heterozigotos Mm teremos:
pai →           M              m
mãe ↓           M              MM              Mm
                        m              Mm             mm
com apenas 25% de chances de nascerem filhotes com pigmentação normal (mm).

PLEIOTROPIA

Por definição, pleiotropia é o efeito múltiplo de um só gene. Exemplificando, temos a surdez
congénita que está associada a alterações da pigmentação, tais como cor branca e olhos
azuis. Já foi sugerido um padrão hereditário para cães das raças: Setter Inglês, Old English
Sheepdog, Collie, Cocker Spaniel Inglês, Dálmata, Bull Terrier, entre outros.

GENES MÍMICOS

Ocorrência comum para dois ou mais genes, independentemente da herança, eles podem exibir fenótipos similares ou idênticos.
Esta classe de efeitos, não é apenas coincidência, mas sim devida ao facto de que a expressão de uma característica, por exemplo a cor, pode ser controlada por diversos genes, e qualquer um pode sofrer mutação, produzindo efeitos finais similares.
Exemplo: Dois cães da raça Cocker Spaniel Inglês, de cor dourada, procriam filhotes pretos; retirando um equívoco ou erro no cruzamento, temos a definição de que dois genes mutantes produziram fenótipo para a cor dourada em um ou ambos os progenitores, cuja cor seria, na realidade, negra, não fosse pelo efeito do gene mutante.

PENETRÂNCIA E EXPRESSIVIDADE

Considerando a complexidade de vias pelas quais alguns genes exercem o seu efeito no fenótipo, os efeitos de genes reguladores na expressão de muitos genes, e as interacções ocasionalmente complexas entre factores ambientais, genes reguladores e vias de expressão gênica, não é surpreendente que os efeitos fenotípicos de alguns genes sejam variáveis.
Os dois termos, expressividade e penetrância, são usados frequentemente na discussão sobre a variabilidade dos efeitos de genes específicos no fenótipo. Quando o grau de expressão fenotípica varia de indivíduo para indivíduo, diz-se que o gene tem expressividade
variável. Quando a variabilidade na expressividade de um dado gene é tal que a presença do gene nem sempre resulta em um efeito fenotípico detectável, diz-se que o gene tem penetrância incompleta.
Evidentemente a penetrância incompleta é meramente uma extensão de expressividade variável de genes, onde os efeitos no fenótipo são tão pequenos que não podem ser detectados.
A penetrância pode alterar os fenótipos de genes normais ou mutantes, mas aparentemente o gene mutante é o mais afetado pelas variações na expressividade.
Alguns fenótipos mutantes são relativamente constantes, enquanto outros variam
consideravelmente.
Como exemplo, temos a formação da cor preta, onde a variação observada é na intensidade em que a cor se apresenta. Temos também o padrão tan, que ocorre em algumas raças, cuja intensidade é variável, podendo se apresentar na face do animal ou na barriga, mas sempre temos este padrão nas patas e no peito do cão, embora seja facto que nasçam cães inteiramente negros, podendo ou não apresentar o padrão tan durante o crescimento. Estes animais podem ser filhos de cães com excelente marcação, e o nome deste evento é impenetrância.
Por sorte, a impenetrância não é um factor importante na herança de cores. A expressão de um gene pode variar, mas a penetrância é normalmente cem por cento.

EXPRESSÃO LIMITADA PELO SEXO

Um sexo pode ser uniforme na expressão de uma característica específica, e ainda transferir os genes que produzem um fenótipo diferente na descendência do outro sexo. Os hormónios sexuais aparentemente são factores limitantes na expressão de alguns genes. Existem mais factores básicos envolvidos nas características limitadas pelo sexo. A produção de leite nos mamíferos é limitada pelo sexo.
Há genes promotores de alta fecundidade, leite abundante e nutritivo, e habilidade materna. Estas são heranças de genes comuns a ambos os sexos, embora eles possam se expressar apenas nas fêmeas. A cadela pode ser deficiente de um desses factores, devido a causas genéticas, entretanto, ela irá transmitir tal falha a todos os seus filhotes machos e fêmeas.

ANOMALIAS CONGÉNITAS

O genoma (DNA) de um cão está contido em seus setenta e oito (78) romossomos, trinta e nove (39) herdados de seu pai, e trinta e nove (39) herdados de sua mãe. Assim, cada indivíduo tem dois genes responsáveis pela mesma característica, um recebido de sua mãe, e o outro de seu pai.
 Se um dos genes de um determinado par for modificado por mutação, o indivíduo terá, naquele par, genes diferentes, um normal e o outro alterado. Em algumas doenças, este único gene alterado pode causar sintomas clínicos.

PRINCIPAIS ANOMALIAS CONGÉNITAS

Astenia cutânea ou dermatosparaxia - compreende um grupo de desordens hereditárias do tecido conjuntivo cutâneo, no qual o animal apresenta pele frouxa, hiperextensível e anormalmente frágil, em que o mais leve arranhão resulta em lacerações graves. Esta doença é determinada por um gene autossômico dominante; neste caso, 50% dos descendentes do indivíduo afectado correm o risco de serem também afectados.
surdez congênita - está frequentemente associada a alterações de pigmentação, tais como cor branca e olhos azuis. É determinada por um gene autossômico dominante.
monorquidismo e criptorquidismo - ausência de um dos testículos ou de ambos. Anomalias que podem ser apenas temporárias, e corrigíveis através de tratamento hormonal, que em não surtindo efeito, comprova a anomalia congênita. Provém de factores recessivos.
doença de Christmas - também conhecida como hemofilia tipo B. Causada por uma deficiência ligada ao sexo. A maioria dos animais sintomáticos são machos, e pode atingir cães e gatos.
síndrome de von Willebrand - a doença é transmitida de modo autossômico. O factor von Willebrand é necessário para aderência plaquetária. Assim, quando ele fica 25% abaixo do normal, pode ocorrer hemorragia espontânea, mas felizmente trata-se de uma ocorrência muito incomum.
displasia coxo-femural - é causada por um gene recessivo e intermitente, ou seja, pode ser suprimida em uma ou mais gerações. Nesta doença ocorre uma sub-luxação da articulação coxo-femural, devida à instabilidade dessa articulação, porque o acetábulo não tem profundidade suficiente para acomodar correctamente a cabeça do fêmur. A doença, bastante dolorosa, evolui para a degeneração da articulação.
atrofia progressiva da retina - o gene mutante responsável por este mal está localizado no cromossomo X. As fêmeas, que têm dois destes genes mutantes, são afectadas, mas, as que têm apenas um são clinicamente normais, porém, poderão transmiti-lo a 50% de seus filhos. Como os machos têm apenas um cromossomo X, se eles não apresentarem o gene anormal, a doença não se desenvolve.

SELEÇÃO NA CRIAÇÃO

Depois de abordarmos as leis básicas da genética e os diferentes tipos de herança, e seus problemas apontados no tópico ANOMALIAS CONGÉNITAS, vamos falar de programas básicos de selecção na criação, HOMOZIGOSIDADE e HETEROZIGOSIDADE, bem como da utilização de inbreeding, line-breeding ou out-cross.
Homozigosidade - É um programa em que a tendência é trabalharmos com animais que possuam características semelhantes, herdadas tanto da mãe como do pai, e sejam parentes consanguineos relativamente próximos. Parentesco é geralmente dividido em graus. Os pais são aparentados com sua cria em primeiro grau; os avós em segundo grau, e assim por diante. No pedigree, quando observamos que o mesmo ancestral aparece várias vezes, tanto por parte do padreador como da matriz, dentro das últimas cinco gerações, ocorreu o que se chama de inbreeding, e significa que houve preponderância de seu sangue. inbreeding pode ser muito intensivo, como o acasalamento de pai com filha, mãe com filho, irmão ou meio-irmão com irmã, etc.; porém, o mais comum é acasalar um macho com a meia-irmã de sua mãe, produzindo desse modo, preponderância do sangue de seu avô materno. Semelhante acasalamento é um exemplo do que é classificado como line-breeding, o qual é muito mais recomendável do que o inbreeding intensivo, embora de resultados menos
acelerados. Devemos lembrar que o inbreeding ou o line-breeding intensivos acarretam uma rápida duplicação, tanto de genes dominantes quanto de recessivos nos pares de cromossomos da nova geração, neste caso eles podem ser utilizados tanto para fixar como para eliminar características. No entanto, não estamos criando nada de novo: mas, apenas, fixando características de ancestral considerado o exemplar expoente da raça, mas, ao mesmo tempo, assume-se também o risco de intensificar as faltas dominantes ao consolidar os traços desejáveis. Trata-se de um perigo real. Existe ainda a possibilidade de que, em nossos esforços de selecção, venhamos a perder o vigor do plantel. Em defesa desse programa, é válido lembrar que nenhuma grande época ou progresso de qualquer raça puderam ser obtidos sem a utilização do inbreeding. Na vida dos animais selvagens, no meio dos veados, raposas, roedores, gatos, cães, cavalos, gado etc., a criação consanguínea tem prevalecido desde tempos imemoriais, controlada apenas pela sobrevivência do mais apto.
Heterozigosidade ou out-cross - Neste programa trabalhamos com animais sem qualquer parentesco entre si, o que torna a fixação de características muito mais difícil, devido à constante introdução de diferente material genético. Somos obrigados a nos basear apenas no fenótipo, e, na verdade, sempre estamos dando tiro no escuro. A grande vantagem deste programa é a manutenção da variabilidade genética, que nos leva ao vigor do híbrido, o que torna as anomalias congênitas um perigo remoto. Sistema ideal de criação é intercalar inbreeding e out-cross; desta forma fixam-se características, mantém-se a variabilidade genética e o vigor do híbrido. É uma forma de selecção mais lenta para a criação, contudo mais segura e gratificante.
Inbreeding - O acasalamento de animais com alto grau de parentesco (pais e filhos, irmãos ou meio-irmãos) é sem dúvida o método mais rápido para se fixar uma característica, mas também pode resultar em uma perda de tempo. Quando acasalamos animais muito próximos entre si em duas ou três gerações seguidas, podemos sofrer os efeitos da impenetrância, ou seja, temos ótimos exemplares como produto final, mas sem potencial para transmitir seu patrimônio genético. Em muitos casos, é necessária a utilização de out-cross para recuperar o vigor genético do plantel e o preço será a perda do trabalho desenvolvido anteriormente através do inbreeding, já que no out-cross a variabilidade genética obtida anulará a fixação das características que foi obtida no inbreeding.

Line-breeding - Consiste no acasalamento de animais com baixo grau de parentesco, como tios e sobrinhos e avós e netos , sendo esse último considerado por muitos autores como inbreeding, o que considero discutível, uma vez que se acalarmos uma cadela com seu avô materno, por exemplo , ainda teremos a variabilidade genética introduzida pelo pai da cadela, o que impedirá que o genótipo fique inteiramente restrito ao património genético da mãe da cadela. line-breeding é o meio-termo ideal entre o inbreeding e o out-cross podendo ser usado por diversas gerações sucessivas sem causar a perda do vigor genético, embora seja mais demorado para a fixação de características.

Por Helena Accioli

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Animais, Métodos de Cruzamentos

INBREEDING
É o acasalamento de animais com alto grau de parentesco (pais e filhos, irmãos ou meio-irmãos) é sem dúvida o método mais rápido para se fixar uma característica, mas também pode resultar em uma perda de tempo. Quando acasalamos animais muito próximos entre si em duas ou três gerações seguidas, podemos sofrer os efeitos da impenetrância, ou seja, temos ótimos exemplares como produto final, mas sem potencial para transmitir seu patrimônio genético. Em muitos casos, é necessária a utilização de outcrossing para recuperar o vigor genético do plantel e o preço será a perda do trabalho desenvolvido anteriormente através do inbreeding, já que no outcrossing a variabilidade genética obtida anulará a fixação das características que foi obtida no inbreeding.
Para facilitar a compreensão vamos dividir em vantagens e desvantagens do inbreeding.

VANTAGENS:
1.    A consanguinidade, pelo aumento da homozigose, permite apurar geneticamente os animais, sendo importante para fixação e refinamento do tipo desejado.
2.    O aumento da homozigose ocorre tanto para genes dominates como para recessivos. Quando a homozigose ocorre para genes dominantes os indivíduos assim obtidos, quando acasalados com outros não consanguíneos, tendem a imprimir, com maior intensidade, suas características e isto é chamado de prepotência.
3.    Permite a seleção mais eficiente pela separação da população em famílias diferentes, facilitando a eliminação das piores.

DESVANTAGENS:
1.    A consanguinidade apura tanto defeitos como qualidades, dependendo do estoque de genes existentes na população antes do início da consanguinidade. Os efeitos desfavoráveis da consaguinidade são caracterizados pela redução geral da fertilidade, sobrevivência e vigor dos animais. Esses efeitos dependem da intensidade da consanguinidade e as diferentes características são afetadas por intensidades de consaguinidade diferentes. Raça, sexo e linhagem também são causas importantes de variação nos efeitos da consanguinidade.
2.    Os animais endogâmicos tendem a ser mais prepotentes por apresentarem um maior percentual de genes em homozigose, conseqüentemente produzem uma menor variação de gametas (espermatozóides ou óvulos), quando comparados com animais com maior percentual de genes em heterozigose, assim, a progênie tende a ser mais uniforme. Esse aumento na prepotência (capacidade de um indivíduo produzir filhos parecidos com ele próprio) ocorre mais facilmente em características qualitativas, que geralmente são determinadas por poucos pares de genes, como a cor da pelagem, formato de orelha, cabeça, etc, e mais dificilmente para características quantitativas ou produtivas que são determinadas por muitos pares de genes.
OBS: O criador deve aprender a controlar o nível do inbreeding. Não se deve atingir um nível muito alto de endogamia. Caso se passe do limite, os efeitos passam a ser desfavoráveis.

OUTCROSSING
Nada mais é do que a heterose. É o cruzamento de indivíduos não relacionados. Hoje, aceita-se como cruzamento entre indivíduos da mesma raça, desde que não relacionados geneticamente. Usa-se muito para o controle qualitativo de características determinadas por mais de um gene (poligênico) como tamanho, velocidade, temperamento e fertilidade. Como nesse método é muito difícil que se cruze dois indivíduos portadores dos mesmos alelos para uma característica indesejável, há o melhoramento genético ou vigor híbrido que, por definição é o mesmo que heterose. Portanto, a heterose somente pode ser considerada se  o resultante for mais forte do que os pais.

LINEBREENDING
Também conhecido por consangüinidade linear. Usa, o máximo possível, a presença de um indivíduo no pedigree (CRO), evitando quanto possível a consangüinidade.  Por não causar aumento rápido da homozigose, não expõe muitos genes recessivos indesejáveis. É um sistema bem seguro, desde que a seleção dos indivíduos explorados seja severa.

CLOSEBREENDING
É o exagero do inbreeding, cruzando-se parentes muito próximos, como pai com filha e irmão com irmã, desaconselhado em muitas raças de animais, proibida em outras como os pastores, por aumentar muito os efeitos indesejáveis do inbreeding, embora, em poucos casos, possa gerar animais excepcionais.

CRUZAMENTO DE SEMELHANTES X CRUZAMENTO ENTRE OPOSTOS
São métodos que não se atém necessariamente ao parentesco entre os exemplares. Para o cruzamento entre semelhantes, é essencial os exemplares que participem do acasalamento tenham as mesmas qualidades que se deseja perpetuar. Já o cruzamento entre opostos é a técnica pela qual se acasalam cães com características opostas para se obter uma progênie equilibrada (cruzamento entre um cão com garupa plana com uma cadela com garupa de inclinação excessiva). Em termos de seleção e perpetuação de características, o cruzamento entre semelhantes é um método superior em relação ao cruzamento entre opostos. É que mesmo que se consiga corrigir um defeito com base no cruzamento entre opostos certamente os defeitos anteriores reaparecerão nas gerações seguintes. Entretanto, o cruzamento entre opostos pode ser a única solução para corrigir um defeito, mas mesmo nesse caso o mais rápido possível deve-se retornar ao cruzamento entre semelhantes para que a característica possa ser perpetuada.

NICKING
É quando dois cães produzem melhores filhotes quando acasalados entre si do que com parceiros distintos. Trata-se de um grande achado na criação em que as características dos indivíduos se potencializam no acasalamento. A progênie desse dois exemplares deve ser sempre valorizada e é sempre indicada a sua repetição.
Os cruzamentos fechados são, portanto, a base da formação de uma linha de sangue. Acontece que a otimização do esforço no estabelecimento de uma linhagem exige a utilização de outros métodos. Um dos grandes segredos da criação é estabelecer um equilíbrio nas técnicas de cruzamento.

CONCLUSÃO
“Seria absurdo pensar em efetuar tanto inbreeding como linebreeding, como qualquer outro tipo de cruzamento, sem fixar-se com antecedência no fenótipo dos progenitores. A seleção deve ser sempre previa.

A QUARTA VIA: Existe outra forma de conseguir o máximo de homozigose sem efetuar consangüinidade e por meio do outcrossing. Por sua dificuldade não se emprega e em sequer se tem em consideração na criação normal. Por dar um exemplo muito claro: dois cães de raças totalmente distintas que tenham como fixo uma cor, se cruzarem entre si produzirão mestiços dessa cor.
Isso quer dizer que distintos criadores da mesma raça de cães, cujos exemplares não tiveram nenhuma relação de parentesco entre si, poderiam perfeitamente conseguir homozigose para os mesmos traços que se estivessem intimamente aparentados. Por exemplo: igual tipo de cabeça, cor, altura, etc. Cruzados portanto entre si fixariam suas características de igual maneira que se houvessem empregado inbreeding, porém sem nenhum de seus inconvenientes.
Por razões obvias de logística e econômicas isto é muito difícil de coordenar. Uma maneira de conseguir algo parecido seria trabalhar com um standard muito rígido que unificaria todas as características raciais de uma maneira tal que não houvera outra saída que criar sob a mesma tipología.
Todas as raças são obtidas empregando elevadas doses de consangüinidade e essas altas doses de consangüinidade se seguem empregando pelos criadores para poder formar suas linhas, aproximar-se de seu tipo ideal e, o mais importante, fixá-lo como próprio.
A consangüinidade fixa simultaneamente características desejadas e caracteres defeituosos. Se requer grande energia e honestidade para eliminar da criação aos exemplares com defeitos e fixar somente as características buscadas.
Nos Estados Unidos se emprega com intensidade. Não está demasiadamente bem vista na Europa, exceção feita a Inglaterra. Em alguns países, como a Holanda, foi proibido recentemente os cruzamentos inbreeding. E não somente na Europa, na República do Equador, por exemplo, estão proibidos os acasalamentos com mais de quarto grau de consangüinidade.
Vejo muito difícil que consigam fixar um tipo, ou eliminar defeitos, ou obter qualquer efeito que requeira um modelo.
Pessoalmente penso que há outros métodos de zelar pela saúde dos animais e que não devemos extrapolar ao mundo animal critérios antropocêntricos.
A consangüinidade, que tem uma tradição milenar, não é nem boa e nem má por definição, é uma ferramenta que se emprega bem, sabe-se, ou mal se não se sabe. Nos cães. igual que em qualquer ser vivo, a influência dos ascendentes diminui de geração em geração.
Nos pais se pode calcular que se reparte a influência em 50%. Nos avós em 25%. Os bisavós em 12,5%. Na quarta geração se reparte a influência em 6,25% e a quinta em 0,32%. Desse modo, a partir da sexta ou sétima geração qualquer aporte se veria tão diluído que não valeria a pena ser levado em conta.
Dos pais e os avós se pode esperar ver a influência direta nos descendentes, a partir desse momento a responsabilidade genética se modera. A isso há que acrescentar que os antecessores deixam seu traço tanto mais quanto mais homozigóticos sejam.
Um criador experiente, com um projeto de criação bem planejado e começando com uma cifra preliminar de poucos exemplares, ainda que não sejam parentes, poderá em poucas gerações obter um biótipo próprio diferenciado de outros usando a consangüinidade e a seleção com habilidade”

Artigo escrito por Amalio Lasheras

domingo, 14 de fevereiro de 2016

CÃES MERLE COMO EXPLICAR!

Merle

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Nesta página tentaremos explicar um pouco mais sobre a pelagem Merle e sobre os grandes equívocos relacionados a ela.

Um pouco sobre genética

Os folículos do pêlo são constituídos de células contendo dois pigmentos – Eumelanina (preto) e Fenilalanina (dourado); então basicamente a Eumelanina produz o preto mais escuro e os marrons escuros, enquanto a Fenilalanina é responsável pela produção do dourado. Existe uma enorme quantidade de genes que controlam a produção destes pigmentos dentro das células e então a cor da pelagem. Tais genes, que controlam as características, estão presentes sempre em pares, sendo um herdado do pai e outro da mãe. Um gene expressado por letra MAIÚSCULA é DOMINANTE e um representado com uma letra minúscula, é recessivo.
M = Merle
m = não merle
Merle é dominante (representado assim, pela letra maiúscula M)
Quando um animal tem dois genes idênticos, é chamado homozigoto e quando possui dois genes diferentes, ele éheterozigoto.
MM = Merle homozigoto (dois genes iguais)
Mm = Merle heterozigoto (os dois genes são diferentes)
Quando o gene é dominante, o animal só precisa de uma cópia (vinda de qualquer um dos pais) para que a cor se manifeste. Quando o gene é recessivo, o animal PRECISA ter duas copias dele para que a cor possa aparecer no fenótipo, então deve obrigatoriamente receber um do pai e outro da mãe. Sendo assim, os genes recessivos queen.jpg.opt893x670o0,0s893x670tornam-se “carregados”, ou seja, o animal possui apenas uma cópia dele que não é mostrada na coloração, mas que pode ser transmitida a sua prole.
Sendo um animal heterozigoto para um determinado gene (possui uma copia de cada), ele estatisticamente irá transmitir o gene dominante para 50% da ninhada e os outros 50% receberão o gene recessivo. Sendo ele homozigoto, irá transmitir o mesmo para toda a ninhada.
O padrão Merle é determinado por um gene dominante (M), assim sendo, é necessária apenas uma cópia deste gene para que o cão manifeste tal coloração (precisando apenas que um dos pais apresente a cor para que ela se manifeste na ninhada).

Mas então, o que é o “Merle”?

12088214_1508002959512256_2347317250320983990_nO gene Merle atua na pigmentação da Eumelanina, levando a uma distribuição e diluição completamente aleatória do pigmento preto e suas variantes, deixando os cães com manchas de tamanhos e tons bem variados, muito semelhante a uma pedra de mármore (daí o nome da cor, Merle). Este gene atua tanto no preto como no marrom e vai além da pelagem, podendo modificar também a cor dos olhos (azuis, um de cada cor ou igualmente marmorizados). A grande maioria dos cães Merles é heterozigoto (Mm), isto é, só apresentam uma cópia do gene. Quando se faz um cruzamento Merle x Merle, irá se obter uma ninhada onde uma parte (aproximadamente 25%) dos filhotes serão homozigoto (MM). Existe uma grande quantidade de problemas de saúde causados por essa combinação genética, tais como: surdez, cegueira, anomalias oculares (como a redução do tamanho do globo ocular e algumas vezes a ausência do mesmo), infertilidade, etc. Normalmente estes cães são fáceis de identificar por serem excessivamente brancos com ausência de pigmentação (olhos, trufa, boca, almofada das patas) e têm olhos pequenos e/ou mal formados. Devido a estes problemas, dois cães Merle não devem NUNCA acasalar e nenhum criador responsável chegaria a cogitar tal hipótese. Quanto a Merles normais heterozigotos (Mm), não existe nenhum problema de saúde conhecido ou cientificamente provado associado a tal coloração, tornando-se assim um mito afirmar que todo cão Merle é portador de algum tipo de defeito genético.
Mas notem: não é pelo fato de o cão ter o branco como cor predominante, que o torna um duplo Merle (MM). Inúmeras raças com o gene atuante sobre o Merle, também possuem os genes que atuam no alelo (responsável pela manifestação da cor branca em cães). Ou seja, quando há a combinação do alelo s ao Mm, o indivíduo se torna um Branco Merle. Por isso torna-se fundamental conhecer a linhagem do animal em questão, antes de qualquer conclusão precipitada.

Merle “Fantasma”

Como já explicado acima, cães que sejam Merle heterozigoto (Mm) são animais completamente normais, e para que isso se mantenha, devem ser acasalados com cães de outras colorações (não Merles). Entretanto, há uma cor que pode trazer um certo risco nestes cruzamentos: o dourado. O gene  de extensão, como o nome já diz, é o responsável pela extensão dos pigmentos no folículo do pêlo. Ele é representado pela letra “e” onde (E – maiúsculo) é dominante e permite a extensão da Eumelanina, sendo assim o cão é marrom ou preto, e (e – minúsculo) é a forma recessiva do gene e permite a extensão da Fenilalanina e previne a extensão da Eumelanina, ou seja, não há presença de Eumelanina no pigmento e o cão é dourado.
O que é interessante sobre este gene, é que ele irá mascarar a cor verdadeira do animal. Você poderá ter cães pretos, marrons, azuis e lilases que irão aparentar serem dourados pela falta de Eumelanina no folículo do pêlo. O gene Merle não poderá se expressar nos cães dourados verdadeiros (lembrando que o Merle atua na Eumelanina), portanto, fazer um cruzamento merle x dourado (a não ser que se conheça muito bem e a fundo as linhagens) é loucura. Caso o Merle carregue o gene dourado, provavelmente produzirá os chamados “merles fantasmas”. Então é possível que filhotes dourados nascidos de um dos pais Merle, sejam na verdade Merles e você simplesmente não possa ver. Não seja enganado por aqueles que dizem poder ver o Merle em filhotes ‘ee’, pois isso é química e fisicamente impossível. O risco está nestes filhotes serem inadvertidamente cruzados com cães também Merles, sendo assim um cruzamento Merle x Merle, e como já sabemos, poderá resultar no nascimento de filhotes com vários problemas.

Merle x Padrão da Raça

Do  ponto  de  vista  morfológico, ou seja,  em relação  a  sua  saúde,  temperamento, estrutura  e outros  atributos que são  próprios  ao American Bully, os exemplares que nascem com a coloração Merle têm  um patrimônio genético   idêntico  a  qualquer  outro filhote da sua ninhada.  O  filhote Merle difere-se  dos  seus  irmãos  única  e  exclusivamente  pela  cor  de  sua   pelagem. Embora estes exemplares não possam participar de exposições e ganhar títulos em campeonatos de beleza, devido a  esta  desqualificação  prevista no  padrão oficial da raçatanto nos países da  Europa como no Canadá  e nos  EUA  são  amplamente utilizados em  programas de reprodução, sempre  que  apresentam  potencial  em  quesitos como  estrutura, temperamento, movimentação,  inteligência, saúde, etc.  Infelizmente, no Brasil, verifica-se ainda uma visão muito estreita em relação a coloração Merle, devido a falta de informação e falta de conhecimento.
Abaixo segue pequeno depoimento dado por Dave Wilson (fundador da ABKC), juntamente com sua tradução:
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” O merle é um verdadeiro padrão de cor na raça American Bully. Quando os livros genealógicos foram criados houveram criadores que tinham cães da cor Merle e muitos de seus cães foram registrados nesta raça; portanto, tornando-os verdadeiros American Bullys. Esta raça não é um Pit Bull, todos os cães que entraram nos studbook fazem parte do pool genético desta raça. Já sabemos que algumas linhas têm traços de outras raças, eu diria com predominância de sangue dos bulldogs. Eu preferiria que esta raça fosse apenas descendente de Pit Bulls, mas não é. Na minha opinião os Merles originais tinham mais traços dos verdadeiros Pit Bulls que muitas outras linhas e cães. Fato é que os cães originais registrados nos livros genealógicos da raça fazem parte do pool genético e são todos American Bully. Os padrões foram mudados e os critérios foram alterados para ajudar a limitar traços de outras raças, e ajudar a continuar seu crescimento como uma raça pura. Mas quando os livros genealógicos foram originalmente inaugurados havia um pool genético mais amplo de cães … se você quiser argumentar que o Merle não é um verdadeiro traço no Pit Bull, isso é um argumento irrelevante no American Bully. Livros genealógicos compõem o conjunto de genes de uma raça nova, por isso, esta raça tem esse traço independentemente desse debate. Eu, pessoalmente, tenho algum argumento para aqueles que dizem que não é um verdadeiro traço no Pit Bull, ela pode ser rastreada até muitas gerações. Se você verificar livros antigos do Stratton dos anos 80 você vê fotos de alguns. Se você for mais para trás e olhar para alguns cães bourdreaux, bem lá atrás haviam alguns também. Foi ainda documentado que alguns criadores de Pit Bull usaram um sangue de cães Cur que tinham Merle em suas linhas, que foi feito antes do pit bull se tornar uma verdadeira raça, e uma vez que livros genealógicos foram abertos para ele, ocasião em que se tornou uma verdadeira raça, e essas linhas foram inclusas. Assim como muitos criadores de Pit Bull utilizaram diferentes raças…”
O texto aparenta estar incompleto, mas já é o suficiente para mostrar como a cor Merle sempre esteve presente dentro da raça Pit Bull e, por consequência, no American Bully.
fonte: facebook pessoal de Ken Francis – fundador CBR (Creole Bully Registry).
Outro fato que mostra o quão enraizada esta coloração está na raça, é o fato de que John Colby, um dos criadores mais famosos de toda a história, já possuía cães Merles em sua criação. Abaixo uma imagem de John, seu filho Louis e sua cadela Merle, uma Pit Bull chamada Goldie (1922).
Colby's Goldie

Registro para os cães Merle

Como o Merle é considerado uma coloração fora de padrão, teoricamente até então nenhum American Bully que expressasse tal cor poderia receber registro (independente de qual for a entidade escolhida). Uma forma de burlar isso, assim como ocorre em inúmeras outras raças (ex: Bulldog Francês azul, Bulldog Inglês tricolor, etc), é registrando o exemplar em questão com alguma outra cor aleatória. No caso dos American Bullys Merle que possuem registro, as cores mais usadas são o “brindle” e “tigrado”. Entretanto tais cães correm o risco de terem seus registro cancelados a qualquer momento, por conta desta “fraude” (o que pouco ocorre devido a importância dada ao valor arrecadado com emissão de pedigrres pelas entidades e também pelo número exorbitante de papéis emitidos, tornando praticamente impossível revisar cada um com a devida atenção).  Com o intuito de acabar com isso e conseguir finalmente um registro definitivo e com a real cor Merle estampada nele, é que foi criada a CBR – Creole Bully Registry: entidade com  o objetivo de registrar única e exclusivamente os exemplares Merles (sejam eles American Bully ou American Pit Bull Terrier).
 O Merle em outras raças de Cães
É errôneo pensar que o Merle é completamente banido e fora do padrão para qualquer raça de cão !!! Abaixo, algumas raças onde essa padronagem é completamente aceita :

Dogue Alemão
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Dachshund
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Catahoula
catahoula
Alapaha Bulldog
alapaha
Buldogue Campeiro
campeiro
Pastor Australiano
australian
Pastor de Shetland
sheltie
Collie
collie
Border Collie
border
 Agora exemplos de raças onde o Merle é considerado completamete fora do padrão (fator desqualificante), mas que mesmo assim estão tendo esta cor amplamente difundida :
Olde English Bulldogge
olde
Bulldog Francês
frances
Bulldog Inglês
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Pit Bull
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Chiuaua
chiuaua
Spitz Alemão (Lulu da Pomerânia)
spitz
Husky Siberiano
husky
Welsh Corgi (Cardigan e Pembroke)
corgie
Credito:http://skullbulls.com/merle-2/